O Atlântico a banhar a Patagónia - Argentina, Vitor Vicente, Janeiro de 2010
Cumpridos os meus deveres diários, a pouco de mais de um quarto de hora do fim do turno, lembrei-me de ligar o rádio para ouvir o relato do sorteio da Champions League. Como ainda era cedo para o dito, em vez do relato ou algo afim, acabei por dar de orelhas com António Variações.
De phones nos ouvidos, olhei em redor e dei (agora) de caras com bocas brancas e Europeias a conversar. Não sei se estavam a comentar quem poderia jogar contra quem na Champions League. Só sei que não parecia empresa fácil explicar-lhes as letras de António Variações.
Primeiro, porque os génios jamais foram entendidos muita gente. Segundo, porque as letras de Variações são intraduzíveis para a baça alma Europeia. Não quero com isto chamar de cretinos os meus queridos colegas. Quero apenas dizer que são insensíveis a algo que lhes está mais além: a alma Atlântica.
(Em vez de bater nos colegas, prefiro dar porrada a quem se presta a alguns cultos. Refiro-me aos casos em que o objeto de culto, se tivesse oportunidade, cuspiria na cara daqueles que precisamente lhe prestam culto. Aliás, se há algo que atesta o genio proscrito, acho que passa por ser idolatrado a posteriori por imbecis a quem teria vontade de espezinhar que nem vermes).
Mas deixemos os vermes e os mortos. Fiquemos com o intraduzível Variações. Que, na mais otimista das hipóteses, chegaria aos espírito dalguns Espanhóis mais espertos e atentos. (Nem mesmo assim, os Portugueses reconheceriam os Ibéricos como nossos irmãos e continuariam a considerar os Ingleses como os únicos capazes de nos compreender pela idiota razão de serem Ingleses).
Seja, deixemos que assim seja, como assim tem sido há séculos. Por mim, tudo bem, desde que não se tenha de de sair do escritório, para, via Variações, levitar além dos Europeus e voltar a Portugal. Quedo. Tanto mais mudo, menos surdo. Com a de-vida distância.