terça-feira, 15 de novembro de 2011

Com a de-vida distância V

Temple Bar - Dublin, Vitor Vicente, Março de 2011

Conheci um português com uma enorme vontade de partir. Esteve em Dublin, a convite de um amigo comum, também português. Durante uma semana, o visitante sonhou de olhos abertos. Teve o paraíso a seus pés. Foi um César em todos os caminhos que trilhou.
Não o vi no dia em que teve de voltar para Portugal. Vi-o na véspera. A véspera é pior do que o dia da partida. A véspera pode ser um verdadeiro vexame. É quando mais sentimos que estamos a ser escorraçados. Que falácia é pensar-se que na véspera damos tudo o que temos e não temos dentro de nós. Não. Na última noite, por mais que queiramos dar algo ou deixar algo ao mundo, estamos semi-vazios. Como o copo que vai a meio e que, por qualquer estúpida superstição, não conseguimos terminar. Na véspera sentimo-nos a esvaziar. A evaporar. 
Este português ter-se-á defendido com a ideia de que, mais cedo ou mais tarde, terá que para cá voltar. Não mais como um breve vapor, antes de vez e para fazer vida. Com solidez, seriedade. Terá pensado, pergunto-me, que todos os sonhos não são sólidos nem sérios? Terá pensado que o mundo dos lúcidos é um território sujo e sórdido? Duvido. Quem  sonha tão alto jamais o alcança. Não tem outra pressa senão em soltar-se da âncora. Em libertar-se desse peso, desse gigantesco e tremendo peso. Para que, por fim, possa partir.

P.S. Revi-me no português que queria partir. Traguei-lhe os trejeitos que já não tenho, aplaudi-lhe as ânsias e incitei-lhe a fazer-se ao leme das mudanças. Foi a minha maneira de lhe retruibir por me permitir reviver-me a mim próprio, com a de-vida distância. 

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