Bandeira Portuguesa no dia da final da Liga Europa - Dublin, Vitor Vicente, Maio de 2011
Comiamos castanhas como quem come pop corn. Podíamos até chamar-lhes de pipocas sazonais. Sabíamos que só as podíamos ter ali e agora, que logo esse sabor iria embora. Um sabor que se evaporava, volátil, como a própria vida. Que, um dia, seria levado para longe, por um qualquer vento e para uma qualquer terra que não conhecíamos e para onde nos apetecia partir.
Era um cheio que viajava no tempo e no espaço. Um cheiro viajável como uma sala de cinema. Como o cheiro das castanhas assadas que, hoje, voou até Dublin e me fez ter saudades dos doces finais de tarde, às Sextas e em Lisboa.
Ainda não sabia ao certo o significado do Shabat. Ainda não atribuíra uma cor a cada cidade. Na verdade, ainda não começara a conhecer cidades. Nem pensara que, algum dia, perderia a paciência por haver pouca paleta para tanto mundo. Ainda não conotara cada cidade com um cheiro.
Mas hoje cheguei a Lisboa através do cheiro. Ou melhor, no nevoeiro do carro do assador de castanhas de Joshua Benoliel. Não me resta outra maneira de voltar senão estas manhãs messiânicas e sebastianísticas. Vivo encoberto, vivo exilado. Com a de-vida distância.
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