Passageiros à espera do Tren Patagónico - San Carlos de Bariloche (Patagónia) ,
Vitor Vicente, Fevereiro de 2010
Todos os terminais, de autocarros, comboios, barcos ou aviões, são termómetros do tempo. Tirando quem lá trabalha e que apenas espera o fim do turno, um ou outro diletante que mais não espera que aconteça qualquer coisa que o possa desaborrecer sem que isso o apoquente, tirando estes, há sempre alguém à espera de alguém. Seja à espera de alguém que vai chegar, seja a partir para um lugar onde alguém esteja à sua espera.
Elevados à mais alta das esperas, a espera entre estrelas, espera inter-estrelar, os aeroportos são uma espécie de sala de espera suspensa no ar e às avessas. Não há outro lugar onde as emoções estejam tão escancaradas, tão á flor da pele, tão espetacularmente autênticas.
No fundo, o próprio mundo é uma sala de espera, que se espreguiçou e se tornou um pouco maior que o costume e que o esperado. Viver, enfim, é estar à espera. Mesmo escondidos, à espreita, a olhar de esguelha, nalguma esquina ou expostos à descarada, somos sempre surpreendidos pelo próprio soslaio. Esperamos, logo existimos.
Eu conheci salas de espera de toda a espécie. Desde o dentista de Dublin onde fui a semana passada, até a todas as portas de embarque de todos os aeroportos onde fiz figas para fazer valer o meu bilhete stand by.
Diria que todas as salas de espera deste mundo e do outro são sempre a mesma. A mesma ansiedade, a mesma paciência. A pressa personificada na diferença de cada pessoa.
Mas nada vi que se pareça aos prédios residenciais de porta semi-aberta e candeeiro vermelho no tecto, algures num infame bairro de Atenas. Onde, logo à entrada, vi tipos fazerem fila num banquinho, enquanto aguardavam a sua vez de serem chamados para comprar a cópula de circunstância no rés-de-chão direito ou esquerdo, consoante fosse o freguês que se despachasse mais cedo.
Filas gregas. Filas indianas. As diferentes maneiras de estar à espera. Como posso comparar os dentistas de Dublin aos de Portugal? Tão despidos de cerimónias, de secretárias, de importancidades - tão irlandeses. Só os posso comparar aos médicos cá da cidade, que nos medem a febre com uma mão e nos cobram os cinquenta euros da consulta com a outra.
Com maiores ou menores semelhanças, volto sempre a Portugal, sempre que me volto a sentar numa sala de espera. O tempo das salas de espera é o mesmo tempo das distantes tardes febris que passei na infância, deitado, a observar as intermináveis paredes do meu quarto. O tempo das salas de espera é o tempo dos que adoecem de tédio e no tédio encontram a terapia contra tudo e contra todos.
No meu caso, o tédio é ainda o tempo em que me é permitido o privilégio de estar de novo perto de Portugal, com a de-vida distância.
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