domingo, 22 de janeiro de 2012

Um sonho chamado América do Sul I

Pampas Profundas - A bordo do Tren Patagónico, Vitor Vicente, Fevereiro de 2009

Que me perdoem os Porteños - os mais pedantes, para quem é uma afronta ser tidos por Argentinos e um insulto a condição de Sul-Americano - mas o meu périplo pela América do Sul vai começar na capital da Argentina: Buenos Aires. Vai fazer agora dois anos, em Fevereiro, que lá estive. Na altura, de tão desolado, não ousei dançar Tango. Desta feita, não me irei conter.
Nem deixarei de - como deixei há dois anos atrás - de atravessar o Rio de La Plata e ir ao Uruguai. É ir e voltar no mesmo dia. Mas um imperativo ir. Colonia é a cidade. O nome já diz tudo: cidade colonial, primeiro pelos Portugueses, depois pelos Espanhóis. 
E por falar em Português. Segue-se o Brasil. Segue-se Foz do Iguaçu. Com as suas incontáveis cataratas, deslumbres e desejos despudorados. Onde agora mora um amigo que sempre sonhou morar no coração da América do Sul. Como será rever um amigo com quem partilhei ânsias de partir, como será revê-lo do lado de lá do Atlântico? Não sei.
Sei que quero atravessar a Ponte da Amizade, na direcção do Paraguai. Ciudad del Este é conhecida como um paraíso de marcas aldrabadas. Uma espécie de China no nervo do Continente Inca.
Faltam quatro dias para partir para um périplo por quatro países, em onze dias.  

sábado, 21 de janeiro de 2012

Viagística XII

Calle Florida - Buenos Aires, Vitor Vicente, Fevereiro de 2009

A nenhum país é possível o regresso. Todas as despedidas são definitivas.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Que horas são em Haaretz? VI

Memorial dos Judeus deportados de Tromsø - Noruega, Vitor Vicente, Agosto de 2010

Sento-me na cafetaria da Marks & Spencer. Não peço mais que um Croissant com manteiga e um café mocha. O resto da refeição fica por conta da realidade. No caso, o desfile das domingueiras pessoas pela Grafton Street.
Pergunto-me se estas pessoas já abençoaram as suas vidas. Assumo que algumas delas ja o fizeram, algum dia, alguma hora. Algures durante a sua vida, diante de uma dessas experiência-limite em que a lucidez ocupa o lugar da loucura e vice-versa.
Aposto que poucas destas pessoas fazem da benção um exerício, sequer uma prática quotidiana. Até me quer parecer que estas pessoas são demasiado profanas para se ocuparem com exercícios em que envolva o Eterno. Mas não me apoquento com os rituais que os outros não realizam. Não vim à cafetaria da Marks & Spencer para evangelizar ninguém. Nem terei tal intuito quando terminar este texto e o café, e saia à rua.
Basta-me a lição da "Lista de Schindler",  a que acabo de assistir. O homem que salvou vidas e pôs o risco a sua, esse homem não precisa de escrever um livro, ter um filho ou plantar uma árvore. O nome de Schindler são todos os nomes da Terra Prometida, são todos os nossos nomes. Todos somos descentes de Schindler. Todos os que lhe temos uma dívida, a maior das dívidas: a vida.
Não vale a pena sair à rua e perguntar a estas pessoas: que horas são, Hoje, em Haaretz? Só Schindler sabe. Saberá sempre.

Viagística XI

Os transeuntes da Grafton Street - Dublin, Vitor Vicente, Janeiro de 2012

Já não leio mais jornais. Na verdade, jamais li jornais. Tenho preferido inventar viagens verdadeiras a que me impingem o mundo dos mascarrados - dos mascarados. 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Com a de-vida distância VI

Aviva Stadium - Final da Liga Europa em Dublin, Vitor Vicente, Maio de 2011

O "Portugueto" sai para as ruas de Dublin sempre que há "derby" lá na "Lusolândia." É o pretexto mais que perfeito. É vê-los com o cachecol do clube do coração. É vê-las a acompanhar os respectivos como acompanharam na mudança de nação.
Bebem pints, imperialmente ou de fininho consoante as cores clubísticas. Mas todos gostam à brava é das Irish Girls que, ao contrário dos idos tempos no Allgarve, não lhes fazem olhinhos, nem lhes dão bola.
Por isso, e para descanso das consortes, o melhor mesmo é concentrar-se na bola.
Portugal em peso. Sem olhar à conta, nem com meias medidas. Repetem rituais como se continuassem no café da esquina. Nem deixam em casa os comentários racistas contra o "cabrão do preto que, foda-se, com um caralho, que o palhaço do treinador, palhaço pá, mandou marcar a porra do penalti". 
Alguns preferem nem ver o penalti. Aproveitam para, fora das quatro entrelinhas do terreno de jogo, galarem as "Irish Girls" que, já sem a leveza e o desprendimento de quem está de férias, não lhes passam cartucho, nem cartão.
Cartão acaba de mostrar o árbito. Cartão amarelo. Amarelo como o único sorriso que consigo esboçar durante os noventa minutos em que volto a Portugal com a de-vida distância.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Diáspora de Dublin XIII

Irish Sea - Howth, Vitor Vicente, Janeiro de 2012

Uma cidade costeira, com o mar por perto, jamais terá o deserto dentro.
O mar, dada a sua natureza auto-nutritiva, é inesgotável. Traz à costa os corpos daqueles que, um dia, partiram e contém as ânsias por novos horizontes aos que, mais ou menos acomodados, ficam ou vão ficando.
Mas há mares e mares. O Mar Irlandês (que outro nome poderia ter este mar, quando tudo aqui é pretexto para usar Irlandês como uma marca?) não convida a ir a banhos. Antes, a contemplá-lo. Com respeito. A lembrar que a realidade merece o nosso inteiro respeito.
Que seria da realidade senão fôssemos todos nós o micro-rio onde desaguámos o respeito? Sejamos afins ou anti-absoluto, todos somos seus afluentes. Alheios, nunca - nem por sombras.  

Diáspora de Dublin XII

Ovelhas a pastar em Drumnaochit - Escócia, Vitor Vicente, Dezembro de 2009

Deixemos de lhe chamar calendário greogoriano. Doravante, companheiros e camaradas, passemos a chamar-lhe de calendário gregáriano. Não se preocupem em passar palavra. Como bons animais gregários, rapidamente atingiremos o estado de pensamento único. Celebremos. Seja 2012 o ano da mudança.
Abrandem-se as euforias nas hostes e nas hortas. Entenda-se que se trata de uma mudança meramente de nome. Fique salvaguardado que o nome da nossa brigada, revolucionário rebanho milenar, estará associado a essa mudança. Constará até na grande galeria de quem escreve entre as estrelas. Exagerados?
Verão que não.  Depressa o dirá quem sabe. Depressa cantará, pelos quatro cantos do mundo, aquele que viaje. Que já tenha ouvido a mesmíssima familiar voz com um outro acento e com o receio de sempre.
Não tenham medo da mudança. O velho Yeshua está aqui para governar o caminho de todos nós. Sejamos cristãos, cristãos-novos, descristãos,  anti-cristãos, ou simplesmente castiços tristãos. Em suma, somos todos irmãos.
Nem se apoquentem, irmãos, camaradas...Outrora, as revoluções de rua mais não mudaram do que os traseiros que assentavam no trono. Esta revolução é ainda mais cómoda: podem soltar o grito do Ipiranga sem sair do sofá.
Ipirangas do Twitter e do Facebook, uni-vos sem sair de casa! Sejamos um só a clamar pela independência do mundo real, ou a aceitar a morte. Sejamos um único animal gregário, vergados, a prestar vassalagem à obsoleta máquina absoluta. Sempre.

P.S. Este post, à falta de outra categoria, vai directamente para a "Diáspora de Dublin". Apenas por ter sido escrito em Dublin. Tivesse sido escrito no Dubai e abria-se uma Diáspora por essas bandas.   
 

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