Eléctrico de Praga, Vitor Vicente, Maio de 2009
Há viagens que evocam velhos livros e livros que evocam velhas viagens.
"A Viagem de Théo”, a avaliar pelo próprio título, parecer tratar-se do caso óbvio de livro que convoca as nossas velhas viagens. Óbvio, tão óbvio que pode levar a suspeitar aqueles que sabem que o verbo viajar, quando praticado no pretérito mais que imperfeito do papel, se pode conjugar num tempo que não encontra espaço nos países que, à falta de melhor termo, chamarei de países propriamente ditos.
Os céticos – que, entre a categoria dos dogmáticos, são os mais ferrenhos nas suas convicções - creem então tratar-se de mais um embuste de capa e lombada. Isto enquanto o romance de Cathérine Clement, sorrateiramente, se passeia neste mundo e não no outro.
Algumas das terras visitadas por Théo mexeram com mais algumas das minhas velhas viagens do que com outras. Como foi o caso de Israel e de Praga, cujas paisagens, vá lá explicar-se porquê, trago sempre presente. Pelo contrário, os episódios no Rio de Janeiro e em Atenas parecem-me passados em cidades que nunca pisei, que nem de relance conheci.
Mas fiquemos por aqui. Tal como o itinerário de Théo, também eu tive e vou tendo o meu, assim como também o leitor terá ou vai tendo o seu. Quem diz viagens, diz leituras.
As viagens e as leituras, tal como todas as coisas, são sempre as mesmas e prova disso é que todas se distinguem entre si e de si. Permitem-se a ser elas próprias e a converter-se no seu contrário. A possibilidade de serem a oposição da sua essência é a afirmação da sua unidade. Em última instância, é a afirmação do Ser, do sopro, do sentido. Daqui à existência de D-us dista um pequeno passo.
Mas fiquemos por aqui em matéria de Filosofia. Que cada um possa cambalear de acordo com o seu passo. Ciente que todos os caminhos vão dar a Théo.