sábado, 1 de fevereiro de 2014

Diáspora de Dublin XXXIV

Carrer Aribau - Barcelona, Vitor Vicente, Setembro de 2012

Lá no escritório, tenho um colega que anda todo contente porque se vai casar. Normal. Tal sentimento de sedentária e gregária satisfação nem deveria servir de mote para o que se quer de uma crónica. 
Só que o meu colega, além de contente com o casório, está super feliz com o fato de mudar de casa, por estar convencido que, desta, será de vez. É que esta vez será a quadragésima vez que o compincha do meu colega mudará de casa em quarenta errantes anos de idade.
É muito, é mais que muito. É de nómada. Ao ouvir isto, calado, pus-me a fazer contas à vida, mais propiamente a contabilizar em quantas casas vivi, com menos dez anos de vida no pêlo que o meu colega. 
Antes de avançar com o resultado, quero dizer que nunca tinha feito tal conta. Eu até sou maluquinho pelos cálculos e pelas mentais matemáticas. Várias vezes, já dei por mim a contar tanto o número de países que já visitei, como o número de parceiras com quem já dormi. 
Não vou revelar o resultado da segunda contagem. Posso apenas dizer que é superior ao número de casas onde vivi e menor que os países que já pisei e que são quarenta e seis. Quanto às casas, até agora, foram dezasseis. (Digo até agora, por lembrar-me do meu vizinho do lado, um Catalão de gema que mora no mesmo estúdio há dez anos e o confessa, ciente dos tempos corridos em que vivemos, com vergonha e cabisbaixo). 
Também não me vou pôr aqui a contar, caso a caso - que é como quem diz, casa a casa - as peripécias épicas que me levaram de um lado para o outro. Tal empresa merecia outro post, um só post
A este post apenas cabe confessar que, às vezes, me parece que sou um andarilho há séculos, há milénios mesmo. E que a única coisa que aprendi é que, afinal de contas e ao contrário do que os acomodados contam e nos querem fazer crer, andarilhar não consiste em trazer a casa às costas, mas sim em saber que a nossa única casa são as nossas próprias costas. 
Porque esta nossa casa levamos até para a nossa derradeira morada, para o qualquer desterro onde a morte nos dê abrigo ou nos deixe entregues e à mercê do relento. 
Eu cá só espero que, antes da hora da minha morte, o "google maps" já tenha uma versão de "google mortos" e nos mostre para onde vamos depois da vida. Uma espécie de sinistro "Street view".
 

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