domingo, 18 de agosto de 2013

Com a de-vida distância XII

A Velha e a Vassoura - Goa, Vitor Vicente, Dezembro de 2011

Durante algum tempo, um dos meus melhores amigos só queria conhecer miúdas através da Intenet. Isto ainda antes do Facebook, aliás o meu amigo, entretanto, passados todos estes anos, nem se deixou contagiar pela febre facebuquiana. É que, já agora, convém esclarecer os mais novos e alguns mentecaptos que primeiro veio a Internet e só depois o Facebook. Quem diz a Internet, diz o sexo virtual. Cuja prática remonta aos tempos do Msn que, hoje, assim dito, parece do tempo do Ms-Dos.  
Houve então um tempo em que o meu amigo fazia amizades virtuais. Exclusivamente. Chegou a conhecer algumas pessoas, no tanto que é dado a conhecer alguém quando se está a cara a cara com alguém. Conheceu de tudo. Desde taradas que faziam strip através da web cam enquanto o meu amigo, do outro lado da web cam, exibia uma nota atrás da outra, até outro tipo de taradas que fodiam com ele, também em frente da web cam, enquanto outro tipo, também do lado de lá da web cam, assistia à coisa. No meio destas mulheres e destas web cam todas, houve, claro está, também casos de criaturas sem grandes caraterísticas. Mas destas, por serem despidas disso mesmo, não rezará a história com nada digno de grande  registo, senão a de pertencerem a uma massa anónima e sem côr. 
A que vem aqui dar o mote à história é uma senhora que dizia (digitalmente) ter quarenta anos e que o meu amigo foi conhecer ao centro da cidade. O encontrou, tal como o encanto, durou pouco. Na verdade, nem começou. Cito o meu amigo: "Conheces aquele tipo de mulher que tem quarenta anos e tem quarenta anos mesmo?". Respondi: "Conheço, sim". Explicou: "Ela era desse tipo. Quando chegou ao lugar onde tínhamos combinado, perguntou-me se eu era eu, e eu disse que não e fui-me embora. Ela era ela. E tinha quarenta anos e quarenta anos mesmo". 
O meu amigo vai também embora desta história. 
O que quero dizer com esta história é que existem pessoas que têm e aparentam ter quarenta anos, ou qualquer que seja a idade que tenham e aparentam ter. Quanto mais velhas sejam, mais tendem a parecer ter a idade que têm. São pessoas que vivem rente à realidade, que respeitam e respiram a realidade como se nada mais houvesse em redor. Que, ano após ano, como carneiros, continuam a cumprir o calendário. Religiosamente. Existem porque envelhecem e envelhecem porque existem. Enfim, envilecem.
Costumo ver essas pessoas quando vou a Portugal. Porque em Portugal permanecem, a apodrecer e a  hipotecar as possibilidades de partir, incluindo o mais importante que é a possibilidade de partir de si próprias. Mas este fenómeno não é  património do nosso país. Este é um fenómeno humano, de escala tão universal como a estupidez. Os portugueses, naqueles acessos absurdos de auto-estima, é que tendem a pensar que há coisas, sobretudo as piores coisas, que só se passam em Portugal. Claro que temos as nossas coisas. Mas isso é fruto de acidentes e incidentes históricos, geográficos e até (ó pedras duras, que precisai de ser polidas!) geológicos.
E essa é demasiada areia para esta camioneta e que se quer leve. Que quer viver longe por crer que longe ser o nome do único lugar onde se pode viver e manter jovem. Os anos aqui, neste lugar sem nome, são-nos anos bobos, de brincadeira. Até quando nos aburguesarmos não deixamos de o fazer de modo atabalhoado, um tanto ou quanto adolescente. É só mais uma experiência, mais uma metamorfose desta condição sem ciência, nem obrigação. O único imperativo é jamais nos rendermos à realidade, a última e única válida resistência é a do espírito. Assim, refratários, participamos do movimento do mundo, por estarmos tão integrados no mundo como no infinito. Assim, mau grado a morte, existimos, rimos e resistimos separados dos vivos com a de-vida distância. 

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