sábado, 19 de novembro de 2011

Diáspora de Dublin VIII

Irish Rail, Iarnród Éireann - Dublin, Vitor Vicente, Julho de 2010

Escrevo da estação de Heuston. Não estou à espera de embarcar, nem espero por ninguém embarcado. Escrevo desta estação com a urgência de partir e sem outro ponto de partida que não o papel.
Pensando bem, posso dizer que acabei de desembarcar nesta estação. Durante as últimas horas, consegui perder-me na cidade onde vivo.
A cidade onde vivo é um labirinto. Tudo o que é edifício e construção é cópia dos demais edifícios e construções. Os bairros sociais são iguais em todos os bairros onde, ao lado dos chamados bairros normais, os plantaram: com o fim de integrar os irlandeses com os irlandeses. Não há volta a dar. Dublin é uma cidade eminentemente homogénea. Enquanto capital, cabe-lhe cumprir o estatuto de arquétipo, de modelo a partir do qual se criam as demais cidades.
O ambiente é favorável à familiaridade. Onde quer que estejamos, dá a ideia de que já estivemos aqui. Pensamos que pertencemos a este país, ou pelo menos à paisagem deste país. Ou, no mínimo, que já fazemos parte desta cidade. Só que a familiaridade não traz nenhuma luz, tão-só um lusco-fusco que nos deslumbra e em nada nos ajuda. A beleza, sabemo-lo desde sempre, jamais foi talhada para a utilidade.
Podia agora apanhar um comboio para outra cidade. Não preciso. Atrás de mim, estende-se uma cidade em que ainda me posso permitir a perder-me. Uma cidade assim, que nos perde no encalço dos próprios passos, não pode saber a pouco. 

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