sábado, 29 de junho de 2013

Diáspora de Dublin XXVII

Cartazes pró-Catalunya lado a lado com Quadros da Catalunya clássica - Barcelona
Vitor Vicente, Setembro de 2012

Existem expatriados a quem o estatuto de expatriado merece ser questionado, senão mesmo posto em cheque. Refiro-me ao tipo de expatriado que se parece a um pedaço evadido de sua pátria.
São pessoas que, por mais anos que passem num país que não aquele onde vieram ao mundo, jamais deixarão de fazer parte da mobília nativa. Pelo simplório motivo de continuarem a comungar uma das  caraterísticas particularmente partilhadas pelos seus compadres. 
A alguns destes expatriados, por mais que se esmerem, nem se coloca a clásica e milenar questão: de onde vim? Basta abrirem a boca e já sai um fio de noodles ou de spaghetti. Outros nem é preciso abrir a boca e já sabemos com que modos, ou falta deles, se sentam à mesa. Há também quem seja traído pela roupa, pelo corte de cabelo - penso em suspensórios ou em riscos ao meio, respetivamente e pouco respeituosamente. Nesta galeria global, sobra ainda espaço para o tipo de expatriado que, quanto mais tenta escamotear a sua condição, mais se aproxima do expatriado escancarado. Sem esquecer, nesta era do cosmopolita de baixo custo, os ingleses e seus descendentes, para quem, em qualquer parte do mundo, o Pub é palco para toda a obra. 
Perante esta panóplia, aqui em Dublin ou noutra cidade qualquer, o que ainda me apraz é encontrar alguém que não renega as suas raízes enquanto, com a mesma naturalidade, colhe conhecimentos e condutas e que os contrapõe às que, até então, tinha vindo a assumir como acertadas e até definitivas. Alguém que se foi fazendo homezinho, sem ter que forçar tiques, nem trejeitos identitários, seja para integrar-se entre expatriados ou no seio dos nativos, seja para afirmar os valores do berço - espetáculo que, aos olhos de gente graúda, bem vivida e bem viajada, se assemelha a uma curiosa quermesse lá das berças. 
Alguém assim é autêntico. Alguém que se sabe assim, pode dar e viver assente na harmonia, na humildade e no humanismo.  

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