Anoitecer na marina de Tórshavn - Ilhas Faroé, Vitor Vicente, Abril de 2013
As Ilhas Faroé são, simultaneamente, umas ilhas inócuas e fodidas. Enquanto lá estamos, parece que não se passa nada. Quando na verdade, quer o queiramos, quer não, o tempo passa. Isto é, o nosso tempo. Pois o tempo das Ilhas Faroé, tal como o de todas as ilhas, é um tempo imenso e infinito.
E o pior é que, findo o tempo que nos coube nas Faroé, há lugares no mundo que nos hipotecam. Esses lugares, é certo, existem. Como possibilidades tão plausíveis como o Pub ao virar da esquina. Mas não nos apetece. Em poucas palavras e muito simplesmente, ao pé das Faroé não são nada.
É então preciso dar um tempo preciso ao tempo. Precisamente, o tempo para que tudo volte a ser precioso. Até ao dia em que não tenhamos presente mais do que uma memória desfocada das Faroé e possamos voltar a desfrutar do que, no momento, relegamos para a segunda divisão dos verdes arquipélagos.
Até lá, as Faroé serão sempre o lugar tão fantástico como as cidades que só se podem ler nos livros ou só se passam na cabeça daqueles que olham o mundo à luz da lombada.
No fundo, as Faroé ficarão no álbum da memória futura, lado a lado com as fábulas e contos feéricos da infância. Senão o mesmo que o próprio período da infância.
Se as Faroé podem aspirar a ser algo figurativo, podemos dizer que são um farol que ofusca todos os oceanos daqueles que já não sabe para onde se virar, nem tem para onde viajar. Um farol que nos diz que somos pouco mais que nada e tão frágeis como um náufrago. Que nos recorda que todos os regressos são irreais.
Após as Faroé - novamente, à semelhança da infância - só nos resta ir em frente. Não há modo de mandar parar o mundo. Às escuras, avançamos. Sem que, alguma vez, tenhamos pedido para começar, nem nos tenham explicado que tudo isto teria um fim.
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