quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Dito e Feito em Waterford

Reginald`s Tower - Waterford, Vitor Vicente, Agosto de 2013

Após quase três anos em que poucas foram as vezes em que estive sem viajar durante mais de três meses, tal período (três meses) de jejum só me poderia conduzir ao entusiasmo pateta do rato do campo que, pela primeira vez, tem a oportunidade de se embasbacar com as luzes da cidade. (O acontecimento inverso, isto é a estreia do rato da cidade em reduto rural, também tem o seu quê de pacóvio. Porque o entusiasmo de uma viagem, que é afinal onde queremos chegar, mede-se pelo quão longe nos leva o espírito).
No meu presente caso, ainda acresce que a viagem não me levaria mais além do país em que vivo (que, como não é o mesmo que o país onde nasci, pesa e dá outro impacto) e nem sequer me daria ao luxo de poder adormecer e acordar noutro lugar que não o colchão  de todos os dias (sensação que, diga-se em abono do apanágio da viagem, é importante praxe para nos apercebermos de que estamos longe).
Estamos então perante um entusiasmo que já disse pateta e que ainda adjetivarei de patente. Só por poder ir a Waterford fazer um frete. Pateta e patente, porém engenhoso, ao ponto de, agora pela minha primeira vez, conseguir conetar o telemóvel a uma rede sem fios de Internet.
Sem fios, eis como me senti assim que dei por feito o frete que, afinal de contas, fora o mote para Waterford. Tinha então uma tarde pela frente que, após o tal período de três meses de jejum e enjoo por não me encontrar a bordo, me parecia todo o tempo deste mundo e do outro.
Depressa entendi que existem ruas em Waterford que podiam muito bem existir em Dublin. Quem diz e escreve em Dublin, diz em qualquer parte da Irlanda. Esta ilha é o império do homogéneo. Imita-se a si própria com uma precisão invejável. 
É certo que, por um lado, em Waterford há Pubs a pontapé e fatos de treino andantes que se movem através da infindável mama do Welfare. Por outro, o facto de não ser uma cidade (cidade, segundo os standards cá do sítio) do interiorzão da Irlanda e estar a poucos metros de um cais de onde se parte e de onde se chega do Velho Continente, possibilita-lhe ter uma par de praças que jamais se podiam imaginar em Dublin, uma livraria de quatro andares com cafetaria incluída e um leve charme Francês.
Convém não esquecer que os Normandos andaram por cá, assim como os Vikings também deixaram os seus vestígios. É olhar para os passeios públicos de estilo medieval e ver que por aqui há muito desaproveitado potencial.
É a Irlanda. O Èire não engana. Por mais influência Viking, Polaca (esta, claro mais recente) e Normanda, por mais alto que tenha sido o sonho do tigre Celta, o tempo das ilhas é o tempo das ilhas. Tanto mais perfeito, quanto incompleto. Tanto mais incompleto, quanto imenso. Demorado e arrastado.
Waterford, assim dito e anunciado como no sul de uma ilha de que quiseram fazer um país, até parece tratar-se de uma constelação de resorts. Este ano o Verão foi um verdadeiro Verão. Muitos dos que viveram este Verão, provavelmente não verão um Verão como este no Èire. A Irlanda não está suficientemente a Sul para essa sucessão de solarengos verões. Só está suficientemente a Sul para se poder permitir a ser desgrenhada e desregrada. Em tudo o resto, a ilha está exposta aos caprichos do clima (e conduta) Celtas.  

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