Bilhete CP Lisboa-Madrid-Barcelona - Dublin, Vitor Vicente, Agosto de 2012
Este não é um bilhete banal, nem mais um bilhete entre outros tantos bilhetes. É o bilhete dos bilhetes e está guardado no baú dos bilhetes que não tenho.
Este bilhete é, ele próprio, um baú. Ou, pelo menos, uma gaveta a quem se confiam glórias, segredos e vergonhosas confissões.
Este bilhete não se trata de um bilhete qualquer. Com este bilhete vai-se a mais destinos do que nele estão escritos. Ainda que ocultos, aqui constam todos os vinte países (incluíndo o país de onde parti e onde voltei de visita, mas já lá vamos) em que estive enquanto vivi na Catalunya, mas também os outros vinte e dois onde fui, alguns anos depois, já a morar em Dublin.
Este é um bilhete com bilhetes dentro. Um bilhete desdobrável. Como o mapa do infinito. É um bilhete maneiras invisível porque dá a ilusão que mostra tudo quando, na verdade, mostra menos de metade.
Este é um bilhete em que até a origem do seu itinerário se tornou um destino. No sentido em que, cumprido o dito trajeto, a respetiva origem também se tornou um destino viajável.
Este é um bilhete que transforma e que transtorna. Que transfigura pontos de partida e acaba com sentimentos de chegada. É certo que é um bilhete de caminhos de ferro, mas tem o seu quê de fluvial e aéreo. É um bilhete com direito à entrada no estuário das estrelas. No fundo, é um bilhete toda a terra e para contemplar o céu por completo.
Este é um bilhete-mestre. Um bilhete que abre outros bilhetes. Que arromba países que, quando se está em Portugal e por Portugal se permanece, parecem só existir nas enciclopédias. E que, mesmo para aqueles que os podem visitar sem deixar de viver em Portugal, parecem fazer parte da Volta ao Mundo em 80 Enciclopédias.
Este bilhete é-me mais do que um bilhete. É-me uma espécie de segunda via do cartão de cidadão, do próprio passaporte. É-me parte da pele, é-me e ser-me-á sempre o papel em que escrevo. Inclusive, deste ambulante apontamento.
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