quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Micro-cidades dentro doutras Cidades I


Temple Bar - Dublin, Vitor Vicente, Janeiro de 2013

Existem muitas coisas nas cidades. Entre estas coisas, existem também cidades dentro das cidades. Assim sendo, a ser inventado um medidor de cidades, caber-lhe-á consagrar como cidade mais completa aquela em que mais couberem outras cidades. 
A primeira vez que vi uma cidade crescer dentro doutra cidade foi em Dublin. Era uma cidade que crescia com o crepúsculo - com um crepúsculo lento que tomava conta do céu e, como uma cortina, parecia chamar todos os participantes para aquilo a que se que haviam comprometido a tomar parte.
Tudo isto tomava parte no Temple Bar e nas ruas em redor deste bairro - um bairro que, durante o dia, parece semi-adormecido e que desperta da letargia à medida que se vai apagando a luz e tendo na mira virar a cidade do avesso.
No fundo, e isso era algo que ignorava na época, essa trata-se da missão dos bares e dos bairros de bares: estilhaçar o assertivo espetáculo diurno e, de seguida, anunciar a rainha da noite - que nunca será nenhum de nós, por, à semelhança da morte, também a própria noite ser soberana e servir-se das pessoas como mera paisagem que lhe asseguram a sucessão no trono e lhe reconhecem o reinado.
Mas não chamemos nem a morte, nem a noite. Nem o Temple Bar que, hoje em dia, me parece o palácio da inautenticidade. Para alguns, isto é para os que ainda cá estarão, amanhã há mais. O vulgo conformado dirá que amanhã é outro dia, sem se lembrar que ontem foi outro dia e que esse dia não volta mais. As cidades continuarão a crescer no seio das cidades, sem sombra de respeito pelo branco voto de silêncio imposto aos cemitérios.
Por aqui me fico. Sem mais querer acrescentar que assisti ao desdobramento de Dublin em dois, quando corria (na altura, parecia correr devagar) o ano de dois mil e sete, e eu estava nesta cidade com o estatuto de visitante (de viajante, por mais que acumule cartões de residente, sempre). 
Se me permitem mais um parágrafo, na época, pelo capricho dos verdes anos vinte, não se fizeram fotografias. No entanto, há textos escritos que não são para aqui chamados. Senão para dizer que, em vez destes, o que segue é uma sequência de Micro-cidades dentro doutras Cidades.  

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