Árvore do quintal cá de casa - Dublin, Vitor Vicente, Maio de 2012
Pode parecer conversa fiada. Mas faz já algum tempo que eu tenciono pôr um travão nas viagens. Em prol do quotidiano circundante, da realidade da rotina, de extrair tempo ao tédio e ao próprio desgaste do dia à dia.
Um desafio daqueles. Daqueles inomináveis, inexplicáveis. Adianto eu, sem expetativa de o superar.
Outro desafio consiste em tirar uma semana - senão mesmo mais - de férias para ficar em casa. Sem sair do sofá, senão em certas situações que a isso obrigam.
Desta feita, das duas semanas de férias de que (mais ou menos) dispus, fiquei os primeiros sete dias (sete, se contar com o primeiro fim de semana que, quer estivesse de férias ou não, seriam dias off), em casa.
Contudo, sempre à espreita e na tensão de saber quando e onde ia dar a fuga.
Até que, por fim, dei mesmo de fuga para as Ilhas Faroé, donde fugi para Israel e onde fiquei uma mão cheia de dias antes de voltar à base.
Acabei por não aproveitar os dias em casa como queria. Para os curtir, teria de não ter nada em vista, nenhuma espécie de esperança ou expetativa senão a de poder, todo o santo dia, espreguiçar o esqueleto ao comprido. De, dia após dia, sentir-me a crescer. De me sentir cheio por não ter feito coisa nenhuma. De encher as quatro paredes da casa de histórias que não são passíveis de serem contadas a ninguém por só se passarem na minha cabeça. De não me ralar minimamente com isso, por não ter ninguém com quem partilhar essas histórias sem tempo nem espaço.
Assim sendo - ou melhor, assim não sendo - ainda não foi desta que fiz férias em casa. Até porque, quer em casa,quer neste ou naquele continente, eu nunca faço férias. Eu viajo.
No fim de contas, o que eu procuro é o tal resort à prova da realidade. Quem me dera que, algum dia, possa residir nesse resort como qualquer comum dos mortais reside numa casa. O ano todo, o calendário completo.
Até lá, é mais um projeto inacabado. Um complexo (e que complexo!) que ficou a meio, onde bate o vento.
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