domingo, 5 de maio de 2013

Resorts a Céu Aberto e à Prova da Realidade I

Crepúsculo no city centre de Tórshavn - Ilhas Faroé, Vitor Vicente, Abril de 2013 

...parece que o tempo não passa. Parece, sim, parece, quando na verdade o tempo não pára. Eis a ilusão das ilhas. Cujo maior património é possuirem um cronómetro próprio. 
Ou então o tempo até passou por aqui. Passou, pois, terá passado. Porém, petrificou. Perante a overdose de beleza, o tempo petrificou-se num desses colossais rochedos de que é feita a realidade das Ilhas Faroé.
Rochedos lado a lado com lagos. Lagos que lambem o mar. Tudo esculpido com pó de estrela. Inclusive as sereias, os salmões, todo o material ilhéu que nos enche as medidas e mata maneiras a fome. 
Porque o próprio PIB deste povo provém quase todo da natureza. Do peixe, para quem se amanha no mar ou trabalha na terra em actividades afins à pesca. Do turismo, para quem cuida das cortinas que, qual anfiteatro, cobrem as tímidas mas imponentes paisagens. 
Pusessem os Faroeses numa cidade a sério e, em poucos segundos, encontrar-se-iam em estado de sítio. Filas, nem vê-las, nem adivinhá-las. É mais é ovelhas. Todos são vizinhos uns dos outros. Pedem emprestados pedaços de relva para pôr no telhado, como quem pergunta por uma pitada de sal. 
Até as ilhas distam o tamanho de um túnel. Que, se ninguém nos dissesse, digo se não vivêssemos no tempo sem-surpresas do Google Maps ou do Lonely Planet, jamais suspeitaríamos tratarem-se de túneis sub-aquáticos. No fundo, todo o ilhéu está, por índole, isolado. E, ao mesmo tempo, perto do seu semelhante. Até nós, visitantes, enquanto cá estamos nessa secundária condição.
Enquanto o tempo nos der permissão. Até chegar a hora de partir. O tempo, esse que parece que por aqui não passa ou que por aqui petrificou, o tempo não pára. Amanhã é hora de ir embora.
As paisagens permanecem incrivelmente quietas. Tenho a certeza que estarão na mesma posição, se o nosso síndroma de impermanência não nos hipotecar o regresso e voltarmos às fugidias Ilhas Faroé.  
O tempo destas - e suas primas- ilhas é inacessível. É o tempo de facto. Tão efectivo que dá a ideia de ser feito de fantasia. É o tempo do infinito. 

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