sábado, 4 de maio de 2013

Diáspora de Dublin XXIV

Entrada e/ou Saída de St Stephen´s Green - Dublin, Vitor Vicente, Março de 2011

Através da vitrine de um dos poucos bares que não enchem as medidas da palavra Pub (ou devo dizer de um dos poucos pubs que não preenchem os requisitos da palavra Bar?) vejo: um jardim que tanto podia ser aqui como do outro lado do Celtic Sea e a paragem terminal (ou inicial, consoante o caminho de cada um ) de uma espécie de metro de superfície (ou devo dizer elétrico?) cujas linhas não cruzam e obrigam o pobre do passageiro a asseguar as conexões pelo próprio pé.
Pelas ambiguidades listadas no primeiro parágrafo - digo eu, que sou sempre cético - já dá para adivinhar a índole dúbia de Dublin. Digo, e escrevo, do Dandelion, o tal metade Pub, metade Bar (e ainda, nas febris noites de fim de semana, metade Discoteca), que fica em pleno coração da cidade que, de tão campónia e cheia de gente generosa, não pode ser chamado de centro da cidade, nem nos proporcionar o aperto disfarçado de abraço que nos dá a multidão duma metrópole.
Eu cá tenho encontrado espaço. Já lá vão três anos a habitar esta cidade como trampolim para outras cidades, outros mundos. Entre os quais o meu mundo que, tantas e tantas vezes, é feito sentado a uma mesa qualquer, acompanhado de pints que não devem ser chamadas só e simplesmente de cervejas, mas sim - e esse ensinamento colhi aqui -serem tratadas pelo nome próprio.
Não estou propriamente triste. Só consigo entristecer-me até onde o meu temperamento de trevas e de pedras me permite. É apenas a nostalgia da cidade faz-de-conta, do tempo que não dava nada por ninguém, nem ninguém podia prestar-me contas por coisíssima nenhuma. Uma cidade e um tempo que existiram há três anos atrás, quando vim para aqui viver. Que por aqui vivia com a leveza que, há seis anos atrás, por aqui andei de visita.
O truque, anuncio eu, sem saber se estou num Pub ou num Bar, é viver na cidade onde se mora com o ânimo e alma leves de quem vem de visita. Não fosse este mundo pouco mais que um local de visita, que um lugar onde nos deixaram vir dar uma volta. 

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