Baía de Vancouver, Vitor Vicente, Dezembro de 2012
Volto a Vancouver, donde sonhei nunca mais sair, desde o dia em que a visitei e, não fosse a distância e a idade avançada do meu país (digo, trocando o acento aos is, dos meus pais), lá quis fazer vida, construir um qualquer atabalhoado quotidiano que, enfim, me permitisse ver as estrelas encimar as montanhas através da janela de um escritório qualquer.
Volto a Vancouver via um livro de Malcolm Lowry. Volta-se sempre a vagamundear, volta-se sempre a algum lugar quando se lê Lowry. Mais não seja ao nenhum lugar que ocupa o inglório saber daquele que tem um alcance cerebral que vai mais além de abrir uma lata de conservas ou assar umas sardinhas. Esse nenhum lugar ambulante e amaldiçoado. Algo entre o embriagado e a estrela cadente. Algo assim, semelhante a um nenhum lugar sem espaço e de espírito transpirado.
Parece que o conto em questão, "The Bravest Boat", tem como cenário a baía de Vancouver. Onde Lowry viveu durante uns tempos. Tempos tão atordoados quanto os que passou na Sicília. Quase tão atormentados quanto os que decorreram no México, de Tequila e ceroulas na mão.
Ao fim e ao cabo - que no caso não é mas bem podia ser o cabo das Tormentas - tanto faz. Este barco pertence à mesma frota de "O Barco Bêbedo", do timoneiro Arthur Rimbaud. Ambos podiam navegar nestas águas, como nas águas do Alaska, ou até Cote d`Azur.
Mudam-se as águas, arrancam-se as páginas do calendário. Mantém-se o desespero diário. A água, quando alguém se quer afogar, é mais da mesma em qualquer parte do mundo. Serve aquele que aspira se asfixiar, serve para quem quer simplesmente estar submerso. Água para naufragarmos em menos que nada. Para subirmos à superfície sob a forma de carcaça carcomida. Para voltarmos a Vancouver sem termos que atravessar o Atlântico.
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