Hong Kong - Mar da China, Vitor Vicente, Setembro de 2011
Mas o Mar da China não conseguiu de todo fazer-me sentir em casa. Ao olhá-lo nos olhos, não aparenta ter nada de diferente dos demais mares. Nenhum traço oriental flagrante. Não emite sons que nos pareçam ditongos, não é amarelado, não é em bico.
O Oceano Pacífico também não me fez sentir em casa. Pelo contrário, certificou-me de que me encontrava longe. Fez-me pensar que mercadorias transportariam os navios que atracavam em Vladivostok. Imaginava se podia ser contrabordo, se o faziam às claras ou na calada da noite. À noite, através da janela do quarto de hotel, punha-me a contar navios como quem conta carneiros. Como quem não tem outra alternativa para conseguir adormecer, para levar de vencidos o fuso horário e a insónia.
Eis a prova viva, que deita por terra toda a objecção em como este argumento é mentira, de que o mar nunca é o mesmo. Já das pessoas, por mais que possam parecer diferentes, por mais que se esforcem em reivindincar identidades e forjar trejeitos típicos, não se pode dizer o mesmo. Mais depressa se encontram ecos de Europa e de Nova Iorque em Hong Kong, do que um búzio oriundo do Mar da China dá à costa de Casablanca.
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