segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Diáspora de Dublin I


Belfast - Parque do Bairro Protestante, Vitor Vicente, Outubro de 2011

Lembro-me de ter lido, num desses guias que desdizem mais do que dizem de Dublin, que esta cidade se caracteriza por toda a gente ter uma razão para se queixar da realidade do dia-a-dia.
O queixume mais audível, tão comum que se podiam constituir coros, é contra o clima - contra a "chata da chuva". Em Dublin, a chuva é parte constituinte da rotina. Faça frio ou sol de pouca dura, pode sempre, sempre estar prestes a cair uma chuvinha. Daquela tímida, titubeante, ainda assim, intrometida, que molha mais os que lhe reconhecem importância do que aqueles cuja pele se tornou já um impermeável. Hoje, no entanto, caíu (digo, desabou) uma chuvada que molhou a todos, conformados de mãos nos bolsos e ombros semi-erguidos ou eternos descontentes de praguejo na ponta da língua. Pela minha parte, como para tudo o que caia do céu, e de há um tempo para cá, nem uma palavra de protesto - acatei a crença de que o movimento do universo é regido pelo melhor propósito possível.
Outro queixume costumeiro tem como objecto os transportes. Entre duas linhas de eléctrico (há quem lhe chame de metro de superfície) que não cruzam, autocarros que, às vezes, passam pelas paragens como se não fosse nada com eles e comboios que só cobrem os bairros chic da cidade, é tudo uma encruzilhada sem nexo, em que custa reconhecer qual é o mais terceiro-mundista. Neste ponto, estou de acordo. Os transportes públicos da cidade querem-se eficientes e funcionais. Não se lhes pede que nos façam perder tempo, nwm que nos façam perder a noção de tempo. Para esse efeito, existem as escapadas a destinos exóticos, as andarilhagens a amazónias. Os transportes do quotidiano têm que ser prosaicos e ponto. É-lhes permitida alguma poesia quando ajudam-nos a fazer frente às intempéries e à tempestade. Mais ainda esta noite, em que um metro subterrânero teria sido um salva-vidas para tanta gente.
O fim de semana não foi muito melhor. Pelo menos, Sábado, em Belfast. Choveu a tarde toda. A chuva fez-me sentir em casa. Como se a água que cai do céu não fosse a mesma em qualquer parte do mundo.

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