Porta de Brandenurg, Berlim, Vitor Vicente, Novembro de 2009
Ainda a memória. A morte. A memória em permanente combate contra a morte.
Nem sempre as viagens que temos mais presentes são as mais recentes. Há viagens de que guardamos apenas uma vaga e imprecisa ideia, outras, ainda que feitas há milénios, parecem ter ocorrido ontem. Levando ao extremo, há viagens que nunca parecemos ter feito e viagens que parecem não terem terminado, nem terem como terminar.
Houve um tempo em que me recusava a tirar fotogafias em viagem. Houve outro tempo em que me recusava a escrever. Houve ainda outro tempo em que não queria registar de maneira nenhuma as realidades que testemunhava, excepto na memória. Há sempre um tempo para tudo, quando nada se tem a perder - além da inxepiável culpa de termos nascido.
Às vezes, dá-me vontade de voltar às cidades onde estive e nada nem ninguém o diria. Seria o regresso real. Do meu mundo nada lá ficou e de lá nada trouxe de tamanho suficiente para poder dizer que o trouxe comigo.
Às viagens pedem-se episódios. Pitorescos ou plenos de preguiça e de paz, tanto faz. Despojar-se de epísódios é igual a viver sem nunca ter existido. É como fazer do funeral uma cerimónial memorável para todos, menos para o defunto.
Ficam por mencionar as viagens feitas de memórias intraduzíveis. Tão particulares e pessoais que se tornam impossíveis de partilhar. Estão condenadas a enterrar-se no esquecimento. A serem construídas com o material imune ao eco, com o material oco dos caixões. Ao mutismo gritante dos mortos.
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