Centro de Dublin visto do Comboio Sub-Urbano, Vitor Vicente, Janeiro de 2012
Nalgumas casas na Catalunya tinha televisão, noutras não. Nos primórdios de Dublin também não tinha, mas agora o dito aparelho até se arrasta cá por casa.
Mas vai sempre dar ao mesmo: a televisão condenada ao silêncio, a ser um mero objeto de decoração, ridicularizada, ao nível da jarra.
Às vezes, vejo televisão no ginásio. Tanto agora em Dublin, como antes em Barcelona. Vejo, mas não a ouço. Ouvir, só me ouço a mim, a viajar com o desfile de imagens das cidades onde nasci e onde acabei por vir viver.
Os sentimentos destas viagens são, todavia, completamente difererentes.
Em Barcelona experienciei o deslumbre. Era uma espécie de luz, de segunda infância, por me encontrar a morar num lugar onde a vida acontecia, onde o quotidiano dos outros era parte do mundo. Eu limitava-me a sentir parte duma cidade que, ainda assim, não me podia pertencer. Como uma mulher que, por mais que cortejamos, apenas permite que preenchemos a sua agenda enquanto mais um mero pretendente.
De Dublin, seja em direto ou em diferido, dá-me um misto de pena e de revolta. Considero esta pequena-grande cidade demasiado parecida com um conto de fadas (incluindo os bairros sociais que, ao contrário do que é comum, estão integrados nos demais bairros) para que a possam passar no grande ecran. A população de Dublin parece-me ainda mais pateta e o verde ofuscante das paisagens dá ideia de se tornar opaco. Como se a capital da Irlanda, assim como toda a ilha, não se levasse suficientemente a sério para ser invadida pelo aparato bélico das câmaras.
Ou talvez seja esta crónica que não mereça seriedade. E mais não consiga transmitir que a minha má relação com a televisão.
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