Rio Daugava - Riga, Vitor Vicente, Junho de 2012
Do pouco que passeei por Portugal não me foi dada a conhecer nenhuma cidade
que tenha uma ponte para si própria. À semelhança do nosso país, também as cidades
que o constituem cultivam as micro-divisas, tidas como freguesias, e põem a
populaça de um lado e a nata na outra margem - à parte.
A Europa, por definição integralista, como se querem os pretensos impérios,
é mais dada a conceber cidades divididas em duas, com um rio ao meio para
amenizar a falta de mar. Rio que se pede ser encimado por uma ponte, por onde
possam passar carros e comboios, charretes e cavalos e, por que não?, também
pessoas.
Copenhaga, a cidade mais europeia da Escandinávia (ou devo dizer a cidade
mais escandinava da Europa?) tem até uma ponte para uma outra cidade de um
outro país: Malmo, na vizinha Suécia. Não fosse Copenhaga a ponte mais que
perfeita entre a Europa e a Escandinávia.
Chegado a este ponto, isto é de ponte em ponte, damos de caras com Riga. Cidade
entrecortada pelo rio Daugava e que muito lhe contribui para o estatuto de cidade
da Europa continental. O rio e os edifícios de recorte holandês e germânico,
todos eles erguidos muitos anos antes – ou seja, séculos – do domínio sueco e
das sovas soviéticas.
Na verdade, Riga revela-se a ponte imperfeita entre a Escandinávia e a
Rússia, ou o que de russo resta na Rússia e arredores. Imperfeita por, para pesar
dos pecados dos letões, pender para o lado leste.
De resto, a realidade de Riga, não obstante uma certa nostalgia, parece
debruçar-se na direcção do futuro - ainda
que atabalhoadamente.
Cidades assim, cidades-ponte, jamais permitirão sentir-se parte dela.
Incrustam-nos o estatuto de estrangeiro à partida e à chegada. Nem aos nativos
parece ser possível fruir da sensação de pertença. Palavras para quê? São
cidades-ponte, senhores, são cidades-ponte.
0 Comentários:
Enviar um comentário