As balas vivas de Varsóvia, Vitor Vicente, Setembro de 2013
Exitem cidades conhecidas por serem cidades cinzentas. É, sobretudo, o caso de grandes cidades, sejam ou não capitais de um país, sejam ou não capitais de uma região.
O caso de Varsóvia, capital da Polónia, é diferentes das demais capitais e das grandes cidades cinzentas. Tão diferente que é elevado ao estatuto de distinto.
Varsóvia não é mais uma cidade cinzenta, mas sim a cidade cinza. Ou a Fénix-feita-cidade, cuja realidade é o resultado do renascer das cinzas.
Cinzas que são nossas contemporâneas. Cinzas que também são nossas. Como fosse também nossa a culpa por terem virado Varsóvia do avesso.
Hoje em dia, Varsóvia veste o novo lado a lado com o velho. Ao comungar esse charme com Berlim, esta cidade torna-se parente próxima da capital da Alemanha - mais próxima até do que de outras cidades polacas. Já Berlim, por seu lado, mais depressa podia ser prima das cidades polacas arrasadas pela guerra, do que de outras cidades alemãs.
Primas que, mais que assistiram, foram palco principal e forneceram personagens aos maiores horrores da história da Humanidade. O palco de Varsóvia ainda está aberto e, aqui e ali, assinalado com marca de alvo.
Em Varsóvia não há coração inviolável. As feridas foram um facto e ainda não foram fechadas. Nós continuamos a repetir erros. Os mesmos, os eternos erros. A rotina humana é repetir erros e em Varsóvia é vê-lo a olhos vistos.
Saltam à vista, na velha-nova Varsóvia de agora, os pactos (e os papos) de Varsóvia. As cinzas de Varsóvia são tão vivas que, num instante, viram isqueiros. Cinco segundos e já a ignição incidiu no músculo cardíaco.
Não há como ficar indiferente às indecências de Varsóvia.
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