sábado, 7 de setembro de 2013

Micro-cidades dentro doutras Cidades V

Rambla Raval - Barcelona, Vitor Vicente, Setembro de 2012

Morei quase um mês no Raval. Se contar com a semana em que morei em dois hostels, se é que é possível uma pessoa morar em hostels, então posso dizer que morei durante um mês no Raval.
Provavelmente, muita gente não sabe onde fica o Raval. Pelo contrário, certamente muita gente saberá onde ficam "as Ramblas". Ou pensa que sabe. Pois uma Rambla há o que mais em quase todas as principais cidades da Catalunya. O que as pessoas chamam de "as Ramblas" é a La Rambla, que é a Rambla do centro de Barcelona.
Chegados ao centro de Barcelona, já na Rambla, ao lado direito, ver-se-á o Raval. Ver-se-á aquele pedaço de carne tão exótico aos olhos dos Portugueses. São os Kebabs, meus caros. Algo árabe que, de tão islamizada que anda a Europa, já é parte constituinte do velho continente. Ver-se-á também aquele pedaço de carne à venda nas esquinas ou em ruas mais refundidas. São as prostitutas. O Raval é ainda pródigo em cabeleireiros que servem de anfiteatros para conferências falocêntricas e cybers onde os emigrantes fazem video-conferências com os queridos lá longe. Ver-se-á também uma Rambla. Pois ao Raval também se lhe permite ter uma Rambla; nem mais, nem menos do que a Rambla Raval.
Mas esse é o Raval profundo. Tal como em todo o lado, nas ruas que circundam respira-se o bairro, mas também se respira a cidade. Eu morei nos arredores do Raval. Primeiro num hostel, depois noutro hostel, novamente no primeiro dos hostels e, finalmente, numa casa dividida com um Paquistanês, uma Italiana e um Japonês, necessariamente por esta hierárquica ordem.
Uma casa multicultural, num bairro multicultural. O idioma instituído era o Espanhol, mas, para o fútil intuito da coloquial comunicação, tanto faz, bem poderia ser o Inglês. Desde que chegasse para a converseta e assegurasse que ninguém chegasse a ninguém. Que é afinal o que se quer do idioma, caso contrário falaríamos em verso e a comunicação inter-cabeças seria uma utopia ainda mais distante, para não dizer inalcançável na nossa mundana miopia. 
Eu cá prefiro e sou apologista do linguarajar banal. Poupa-nos a opinistas, a pessoas que pensam estar na posse de conhecimento para discorrer sobre todo e qualquer tópico.
Nesse sentido, bons tempos foram estes, em que o Raval e a realidade se resumiam a um mero ruído. Que entrava por um ouvido e saía, tão direitinho quanto distorcido,  por outro ouvido.

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