sábado, 9 de fevereiro de 2013

Bratislava e Budapeste I

Compartimento privado do Tren Patagónico - Argentina, Vitor Vicente, Fevereiro de 2010

Desde que saí de Portugal, precisamente em vésperas de completar vinte e três anos e meio de idade, que não voltei a passar o meu aniversário no país a que vim ao mundo. Hoje em dia, tornou-se tão certo ver-me em mais uma cidade estrangeira, quanto espantosa foi a primeira vez que me vi fora da pátria-berço.
Que conste que a primeira das cidades foi o meu segundo berço. Ou a cidade do recomeço, de uma certa renascença. Barcelona. Onde assinalei vinte e quatro primaveras com um passeio solitário, junto à praia (já vos disse que adoro o mar no Inverno?), e um jantar, também a sós, num restaurante galego e situado em pleno city centre. Tudo isto num dia em que não trabalhei. O que por si só já diz que o passei bastante bem.
Outro recomeço deu-se um ano mais tarde. O dia em que fiz vinte e cinco anos em Praga foi o princípio de minha nova-velha alma. Eu, que pouco mais queria da capital da Checa do que seguir os passos quotidianos de Kafka, acabei por receber os apelos de partida para a Terra Prometida.
Volvido um ano, ainda com a Terra Prometida pendente, eis-me em Paris, empurrado pela namorada da época.  Paris, essa ex-Terra Prometida de ditos e apregoados artistas e que para mim pouco mais resultava do que um roteiro para um bom passeio. Ainda assim, gostei mais de Paris do gostara na primeira vez. Estava apaixonado. 
Desapaixonado estava quando, um ano depois, pulei dos vinte e cinco para os vinte e seis a bordo do Tren Patagónico.  Perdido, de cabeça e coração perdidos, enfim perdido de todo, num compartimento que era como uma cela, numa carruagem que se movia, noite adentro, entre as paisagens da Patagónia e das Pampas. Importa ainda acrescentar que o meu aniversário coincide com as celebrações de São Valentim.
São Valentim que tanto se celebra aqui em Dublin. Quase tanto como o St. Patrick. Não dessem estes santos aso ao que de muito pagão há na alma irlandesa e pusessem no caixote o pouco de católico que  gastam os poucos santos da casa. São Valentim, enfim, em Dublin, já serviu de cenário cardíaco para chegar aos vinte e sete e aos vinte e oito. 
Contudo, para cumprir a tradição de não configurar o quotidiano na cidade onde alicerço a casa, antes sim transformá-la em trampolim para o mundo, também este ano decidi ir vaguear no dia dos meus anos. Na verdade, de tanto é o tempo que passo fora, sempre que vou a Dublin, parece que estou a viajar. À imagem e semelhança do que me aconteceu ao fim de ano e meio em Barcelona.
Mas esses são outros andamentos. Desta feita, apontei para o Leste Europeu. A senhora que se segue é Bratislava. Na sequência, ainda na mesma viagem, Budapeste. Mas essa é outra contagem. 

P.S. Pensando bem, passar a dita data em Portugal também seria parte da contagem. Afinal de contas, devido à estranheza que se espera de um local estrangeiro, passei a contabilizar as idas ao país onde nasci à lista dos países que visitei. Mas essa, como disse, é outra contagem. 

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