quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Volta ao Mundo, Via Canadá e Coreia III


Gyeongbokgung - Seoul, Vitor Vicente, Dezembro de 2012

Antes de mais nada, ainda no ar, ou no tão no ar que se pode estar quando aceitamos estar num avião, enfim, acima de tudo e antes de mais nada, os divinos Noodles. Cujo cheiro (curioso, o primeiro contato costuma ser dado pelo olfato) me abriram os olhos adormecidos e mos arredondaram até ficarem em bico – e ainda me puseram em estado de extâsia até encontrar o tripulante que me restituísse o copo a que tinha direito com os belos dos Noodles a boiar lá dentro.
A seguir, já nessa mega cidade que é Seoul, os neons. A anunciar comida, massagens e outras indizíveis coisas que eu sei lá e que só se leem em Seoul e em cidades asiáticas que, aos olhos estrábicos dos europeus e aos ciclopes dos ocidentais continentais, parecem sempre afins. Os neons que, tal era o predomínio da noite sobre o dia, davam a ilusão de se reproduzir. De crescer, de se multiplicar que nem cogumelos. Quanto mais se multiplicavam, maior o mistério. Dir-se-ia que as letras dos neons eram um alfabeto. O alfabeto do absurdo.
Não a seguir, mas sim sempre, sempre, a neve. A cair na cabeça, no corpo, na cidade toda. Nesta Coreia e na outra. Nem conseguia pensar como seria na outra Coreia, o cair da neve em cima das pessoas que têm a cabeça e o corpo todo a descoberto pelo frio e pela fome. A neve não nos deixou ir à fronteira. Mas deixou-nos andar calmamente pela cidade. Como se a neve nada fosse. Como se não houvesse caminho que nos levasse  para fora desta terra nevada. Aconchegante e abençoada.
Quais luzes de Natal e pistas de patins em New York, qual quê? Os intermitentes neons e a inesperada neve da Coreia, isso é que é.
Mais sarcástico que isso é ter chegado a Coreia vindo do Canadá. E da Coreia voltar para o Velho Continente. Com a indiferença altiva de quem cataloga todo e qualquer acontecimento mundano - desses que abrem noticiários, se repetem e repetem no rodapé e fazem manchetes e se discutem nos quiosques - como meros atos de cumprir calendário.

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