segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Volta ao Mundo, Via Canadá e Coreia II

Beautiful British Columbia - Canadá, Vitor Vicente, Novembro de 2012


Aspirado o cheiro a cidade, avistadas as montanhas e o mar da janela do quarto, eis que chegam os amigos. Vêm-nos buscar.
Levam-nos a Granville Island, Stanley Park, Jewish Community Centre, não necessariamente por esta ordem. Nos entretantos, paramos junto de um porto e para um tenro pequeno-almoço.
Tudo isto a caminho de Whistle. Caminho celestial, à beira das brumas. Como quem navega entre nuvens e, à medida que sobe a colina, se sente crescer. Até atingir a frágil condição colossal do glaciar.
No banco de trás, eu e a minha. Ao volante, vai ele. Ao lado, vai ela. Ele ilhéu, logo autista e errante, logo aéreo. Ela expansiva e afetiva que nem uma estrela. A de David, claro está. Juntos têm quase trinta anos de casa às costas. Canadá acima, Canadá abaixo.
Eu, mais indolente que um ilhéu e mais insolente que um moço dos trópicos, eu no banco de trás, que nunca habitei os capots com ou sem tejadilho senão afundado no banco de trás, eu a conjugar, em silêncio como quem reza, o verbo onde na minha e na pessoa da minha princesa. A tentar metamorfosear o onde e o quando na medonha palavra do mundo. No futuro mais que imperfeito deste mundo e do outro.
Posto isto, postulados aquele e o outro, chega-se a Whistle. Vê-se e ouve-se neve. Não à séria, como dias depois sentiu-se em Seoul. Só que aqui temos os amigos e a solidão. É sempre assim. Seja em Seoul, seja em Vancouver.
Voltamos a Vancouver que foi de onde, afinal de contas, tínhamos acabado de chegar e, daqui a pouco, teríamos que partir. Nada mudou, porque nada mudou por termos chegado, nem mudará por termos partido. O cheiro a cidade continua por cá, a muralha de mar e de montanhas também. Assim como o viveiro de junkies no centro da cidade.
Despedimo-nos dos amigos com a promessa de nos voltarmos a ver do lado de cá do Canadá. Sabemos que, independentemente das itinerâncias, a único porta interdita é a de saída do coração. Sabemos isso por a única certeza é saber-nos sós.

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