Belfast Cab, Vitor Vicente, Outubro de 2011
Talvez algumas viagens apenas valham a pena pelas memórias. Talvez todas as viagens.
São os extras que nos enchem a existência. As excentricidades elegantes, os encontros que o mundo nos marcou na agenda, sem antes nos consultar a disposição para o quotidiano.
No dia antes de viajar para Belfast - no tanto que é possível viajar para Belfast, para quem vem de Dublin - nesse dia de preparativos, encontrei-a. Era o dia em que fazia um ano e meio que deixara Barcelona, em direcção a Dublin, alguns anos após ter partido de Portugal para Barcelona e após de Portugal ter planeado partir para me mudar para Dublin.
Mas deixemos essa encruzilhada. Concentromo-nos no caminho que me levou a este encontro, que é como quem diz na eternidade descida à terra.
Entretanto, já numa festa e em Belfast - no tanto que é possível estar em festa numa cidade feia e agreste como Belfast - deixei que uma certa senhora celta me mexesse na berguilha. Quis congratular o gesto com um beijo. Sem sucesso. A noite de hotel em Belfast que eu não marcara revelou-se um banco do Bus Eireann que liga as Irlandas a altas horas da madrugada.
Excesso de confiança, de soberba. Semanas antes, numa cidade chinesa chamada Guanzghou, outrora conhecida como Cantão, houvera fugaz história com uma garota do Uganda.
Não houve bela em Belfast. A haver uma bela em Belfast, houve na véspera.
As vésperas são parte da viagem. Tanto quanto o dia que se segue ao dia do regresso. Tanto quanto os encontros que, por estarem escritos nas estrelas, são patrocinados pela eternidade.
Ela já era parte da viagem sem o sabermos. Ela já era parte da vida sem o sabermos.
Talvez algumas viagem apenas valham a pena pelas memórias. Talvez todas as viagens. Talvez o próprio mundo. Talvez a própria vida. Ou mais não se anda a fazer deste mundo do que um mero lugar onde se veio dar uma volta.
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