domingo, 15 de janeiro de 2012

Que horas são em Haaretz? VI

Memorial dos Judeus deportados de Tromsø - Noruega, Vitor Vicente, Agosto de 2010

Sento-me na cafetaria da Marks & Spencer. Não peço mais que um Croissant com manteiga e um café mocha. O resto da refeição fica por conta da realidade. No caso, o desfile das domingueiras pessoas pela Grafton Street.
Pergunto-me se estas pessoas já abençoaram as suas vidas. Assumo que algumas delas ja o fizeram, algum dia, alguma hora. Algures durante a sua vida, diante de uma dessas experiência-limite em que a lucidez ocupa o lugar da loucura e vice-versa.
Aposto que poucas destas pessoas fazem da benção um exerício, sequer uma prática quotidiana. Até me quer parecer que estas pessoas são demasiado profanas para se ocuparem com exercícios em que envolva o Eterno. Mas não me apoquento com os rituais que os outros não realizam. Não vim à cafetaria da Marks & Spencer para evangelizar ninguém. Nem terei tal intuito quando terminar este texto e o café, e saia à rua.
Basta-me a lição da "Lista de Schindler",  a que acabo de assistir. O homem que salvou vidas e pôs o risco a sua, esse homem não precisa de escrever um livro, ter um filho ou plantar uma árvore. O nome de Schindler são todos os nomes da Terra Prometida, são todos os nossos nomes. Todos somos descentes de Schindler. Todos os que lhe temos uma dívida, a maior das dívidas: a vida.
Não vale a pena sair à rua e perguntar a estas pessoas: que horas são, Hoje, em Haaretz? Só Schindler sabe. Saberá sempre.

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