Goa - Cidade Velha, Vitor Vicente, Dezembro de 2011
Não mais mudar o mundo à maneira de Marx, nem mudar a vida para ir ao encontro da verdadeira vida como vaticinou Rimbaud. Ou talvez ambos, simultânea e sorrateiramente, sem que nada nem ninguém dê conta, enquanto me entretenho a enganar o tempo nesse acto diletante que é viajar.
Disse diletante, digo também ocioso. Porém, não o digo preguiçoso. A toda a hora, a qualquer momento e em qualquer parte do mundo, a sensibilidade é posta em causa. Ao fim e ao cabo, é continuamente apurada. Tanto maior o esforço, maior o choque.
Chamam-lhe choque cultural. Coisa pouca. Muitas vezes, para ter um choque cultural, basta abrir a porta de casa e ver os vizinhos. No caso da Índia, é um choque - mas um choque completo. Que passa pelas pessoas que vivem na penúria, até aos que abastecem o prato à custa de vender refeições numa qualquer cabana de uma qualquer praia de Goa e que dali não saem e que dali não sabem sequer para onde se vai.
Gente que vive no mesmo mundo, que faz parte do mesmo século que nós, os que vivemos e viajamos à sombra de um salário. Eles não são mais nem menos humanos do que nós. Eles são apenas diferentes. É inútil tentarmos ser iguais. É ignóbil sentirmos indiferença.
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