domingo, 19 de agosto de 2012

Viaj O `yce


Pombos, pães e pessoas - Portobello, Vitor Vicente, Maio de 2012

14 de Agosto de 2006 Chego a Barcelona depois de deixar o Barreiro e de ter pensado partir de Portugal na direção de Dublin Primeira semana de Maio de 2007 Venho a Dublin de viagem e volto a Barcelona onde entretanto vivo 14 de Agosto de 2012 Vivo em Dublin 14 de Agosto de 2008 Mudas-te para Dublin 14 de Agosto de 2012 Deixaste Dublin durante um ano mas para cá voltaste desde 2010 Duas mãos (só as minhas, por enquanto) que se movem no mundo com leveza de luva com leveza de cerveja Dois trens (digo trens, pois digo trens) que me levam a atravessar a Península de lés a lés Mais tarde a caminho de Dublin três tristes trens (a ver aviões) um navio (a ver aviões) um vulcão cinzas  A ver A beautiful day such a beautiful day dont´t let it get away ay ay ay Estamos a viver abroad a board de uma espécie de exterior sem espaço e pleno de espírito que só é habitável pelos expatriados que vivem fora e ainda viajam e só por isso conseguem viajar à pátria vulgo plataforma de partida 14 de Agosto de 2006 De bar em bar (caminhos de ferro) até Barcelona De Dublin a Jameson depois o Tulamore Jew  Eu e tu antes na mesma universidade desacadémica catedraquética mesmas gentes gentias mesma cidade sem cor Depois mesma espécie de escroto armado em escritório nojo amor nojo hoje não fosses tu amor hoje nada mais me sobrava do que  nojo Mas há mais há o mesmo mar Mediterrâneo Há Há`aretz no horizonte Não sei viver senão fora senão de fora senão por fora Agora tenho mais uma desculpa (contigo, duas) para ter ido embora Há dias tristes em Dublin há lamechas em todo o lado É verão em todo o lado em Agosto menos em Dublin 14 de Agosto de 2012 mas eu gosto De ti da excelência sem exame que preside ao exílio de ti Aos dois eu digo sim eu digo sim

sábado, 11 de agosto de 2012

Diáspora de Dublin XVII


Entrada da minha primeira casa - Dublin, Vitor Vicente, Março de 2011

Já devo ter escrito, algures, que viajar é um ato voyeurista. Quando viajantes, queremos ver a olho nu o que vimos do outro lado do ecrã da televisão ou do computador ou, no caso dos letrados, alguma coisa que lemos nalgum livro.
A vida do dia-a-dia, por mais comezinho que seja o quotidiano, também tem as suas micro-viagens. Nem que seja esse trânsito de ida e volta que cumprimos a caminho do trabalho. Em que do mundo, de tanto sempre parecer tratar-se da mesmíssima e parada paisagem, só trazemos imagens monótonas.
Duranta a semana, é certo, tendemos a andar submersos. Só à Sexta, sobretudo da parte da tarde, subimos à superfície e vemos a vida que há dentro dos pedaços de cidade por onde apenas passámos.
Tente-se ir a pé por paragens antes navegadas ao volante. Ver-se-á tudo grande, gigante, ou, pelo menos, muito maior do que o tamanho aparentado há dois dias atrás. Ver-se-á o nosso reflexo na realidade, o entusiasmo a olhar-se, vaidoso, ao espelho.
Exercício este, garanto-vos, é de levar às estrelas. Não tem efeitos secundários para quem sofra de vertigens com as alturas desta vida e da outra. Nem é preciso correr meio mundo. Basta abrir a porta de casa. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Com a de-vida distância VII

Entrada do Irish Jewish Museum - Dublin, Vitor Vicente, Maio de 2012

Muita gente sabe que tenho pouco interesse - para não dizer nenhum - por notícias. Do mundo, de Portugal em particular, nada.
Ou de quase nada. Nem mesmo nos raros momentos de nostalgia sou levado a ler notícias da velha nação. Apenas o futebol tem o condão de me religar fisicamente ao fastidioso mundo dos factos e, por breves instantes e meros momentos, abrir mão da fantasia e de me sentir vizinho do infinito.
Durante um intervalo do horário de trabalho – ou seja, de dar um salto ao outro mundo, ficar como que suspenso – lembrei-me de consultar o zerozero.pt, vulgo cyber-enciclopédia de futebol. Detive-me numa das notícias de destaque: sorteio da primeira eliminatória da Taça de Portugal.
Procurei pelas equipas do Barreiro, minha cidade berço, e, por isso, a minha cidade de sempre - e que, assim dita, mais parece um bairro.
Antes ainda de encontrar o Barreirense e o Fabril, dei de caras com uma equipa chamada, nem mais nem menos, do que: Barreiro. Aos ditos, os deuses ditaram jogar em casa. Quer isto dizer, em Angra do Heroísmo, mais propriamente no Porto Judeu.
Barreiro? Porto Judeu? Isto merecia investigação. Próxima paragem: Wikipedia.
De acordo com a Wikipedia, o Porto Judeu foi assim chamado por, na altura do batismo, tudo o que de mau havia era chamado, nem mais nem menos, de “Judeu.”
Assim termina mais uma lenda anti-semita. Lenda ou com fundo de verdade, dou graças ao Senhor por assistir a tudo isto desde Dublin, com a de-vida distância.
 

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