Entrada da minha primeira casa - Dublin, Vitor Vicente, Março de 2011
Já devo ter escrito, algures, que viajar é um ato voyeurista. Quando
viajantes, queremos ver a olho nu o que vimos do outro lado do ecrã da
televisão ou do computador ou, no caso dos letrados, alguma coisa que lemos nalgum
livro.
A vida do dia-a-dia, por mais comezinho que seja o quotidiano, também tem
as suas micro-viagens. Nem que seja esse trânsito de ida e volta que cumprimos a caminho do
trabalho. Em que do mundo, de tanto sempre parecer tratar-se da mesmíssima e parada paisagem, só trazemos
imagens monótonas.
Duranta a semana, é certo, tendemos a andar submersos. Só à Sexta, sobretudo da
parte da tarde, subimos à superfície e vemos a vida que há dentro dos pedaços
de cidade por onde apenas passámos.
Tente-se ir a pé por paragens antes navegadas ao volante. Ver-se-á tudo
grande, gigante, ou, pelo menos, muito maior do que o tamanho aparentado há dois dias
atrás. Ver-se-á o nosso reflexo na realidade, o entusiasmo a olhar-se, vaidoso,
ao espelho.
Exercício este, garanto-vos, é de levar às estrelas. Não tem efeitos
secundários para quem sofra de vertigens com as alturas desta vida e da outra.
Nem é preciso correr meio mundo. Basta abrir a porta de casa.
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