sábado, 11 de agosto de 2012

Diáspora de Dublin XVII


Entrada da minha primeira casa - Dublin, Vitor Vicente, Março de 2011

Já devo ter escrito, algures, que viajar é um ato voyeurista. Quando viajantes, queremos ver a olho nu o que vimos do outro lado do ecrã da televisão ou do computador ou, no caso dos letrados, alguma coisa que lemos nalgum livro.
A vida do dia-a-dia, por mais comezinho que seja o quotidiano, também tem as suas micro-viagens. Nem que seja esse trânsito de ida e volta que cumprimos a caminho do trabalho. Em que do mundo, de tanto sempre parecer tratar-se da mesmíssima e parada paisagem, só trazemos imagens monótonas.
Duranta a semana, é certo, tendemos a andar submersos. Só à Sexta, sobretudo da parte da tarde, subimos à superfície e vemos a vida que há dentro dos pedaços de cidade por onde apenas passámos.
Tente-se ir a pé por paragens antes navegadas ao volante. Ver-se-á tudo grande, gigante, ou, pelo menos, muito maior do que o tamanho aparentado há dois dias atrás. Ver-se-á o nosso reflexo na realidade, o entusiasmo a olhar-se, vaidoso, ao espelho.
Exercício este, garanto-vos, é de levar às estrelas. Não tem efeitos secundários para quem sofra de vertigens com as alturas desta vida e da outra. Nem é preciso correr meio mundo. Basta abrir a porta de casa. 

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