Carruagem do Metro de Seoul, Vitor Vicente, Dezembro de 2012
Bem sei que o meu bairro é aquilo a que se costuma chamar não o mundo, mas um mundo. Mas daí até dar uma dúzia de passos e achar-se na Ásia é salto que só me poderia apanhar de surpresa - mesmo que me apanhasse naqueles sonhos profundos e profusos que só temos de olhos abertos e a deambular.
Convém confirmar que a paisagem de Dublin, à imagem e semelhança de toda a Irlanda, está predominantemente povoada por Pubs. A maior parte são Pubs parecidos uns com os outros, parentes uns dos outros, primos uns dos outros. Depois, como em tudo neste mundo de cópias e baldrocas, há sempre os outros. Os que, à revelia e à rebeldia, se tentam demarcar com a elegância dos dandys. No meio desta barafunda, há o desespero das pessoas que querem encontrar por aqui uma cafetaria como há no Velho Continente. E há ainda espaço para o desespero andante da pessoa que gosta de Pubs Irlandeses e de Cafetarias charmosas e clássicas e que não encontra, nem na ilha nem no continente, quem perceba que se possa gostar das duas coisas e que havendo uma delas se possa continuar a sentir falta da outra.
Mas deixemos o desespero e o Velho Continente. Ou desloquemos o desespero para outro continente, a Ásia. A Ásia, essa meca da malta Zen. Que de zonas Zen só foi à a Zambujeira do Mar e à Festa do Avante.
No único centro comercial que há no meu bairro - de resto, nesta cidade onde chove muito e não deixa de haver poucas pessoas na rua por isso, os centros comerciais podem-se contar pelos dedos de uma mão - abriu há algum tempo uma casa de chá. Como sempre, quanto mais perto está a oportunidade, mais a adiamos. Eu, pelo menos, assumo a minha parte de preguiçoso. Não meto as mãos no fogo por mim no que toca a aproveitar chances que brotam à mão de semear.
Meto as mãos no bule de chá, e já gozo. Tive que esperar um bom bocado para que a empregada chinesa (a única que faz serviço de mesa e que foi motivo suficiente para eu nem querer saber mais do que se passa na cozinha) viesse tomar nota do meu pedido. E outro bom bocado tive que esperar para que o chá me chegasse à mesa. O chá que, tal como a música, ocidentalíssima mas suave, não chegou da China, nem da extinta Indochina. O chá que chegou entre correrias da empregada chinesa, a tal que era a única no serviço de mesa e que me fez perder vontade de auscultar o ritmo da cozinha.
Prefiro as pressas do Médio Oriente. São mais humanos, mais toma-lá, dá-cá. Prefiro ouvir o senhor que se segue, de cabeça soerguida no meu ombro, a fazer o seu pedido, enquanto ainda arrumo o troco na algibeira. Prefiro essa pressa à de olhos em bico que atropelam anónimo fulano e anónimo sicrano, que se auto-atropelam, que nos olham como se fôssemos caixas de multibanco e que nos despacham quando cheiramos a centavo avaro.
Ainda assim, amo a Ásia. Aquela Ásia supersónica. Movida a uma electrónica que me é enigmática como as Esfinges o eram para os Antigos. As esfinges do Egito onde nunca fui, nem tenciono ir.
Não me percam tempo a perguntarem-me porquê. Não explico. Tivesse eu a quem explicar como consigo amar a Ásia e detestar o culto à cultura cool (digo, Zen) do continente asiático.
Dito isto, sem mais delongas, fujo do Egito e de tudo o que mais detesto. Paradas de Paddy´s Day incluídas.
Dito isto, não fosse o presente período o período do Pessach, dá-se o meu êxodo. É a minha última tentativa para gozar a glória, para experienciar uma pálida sensação de êxito.
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