terça-feira, 11 de setembro de 2012

Amor de Mediterrâneo I

Macacos a brincar com Mediterrâneo ao fundo - Gibraltar, Vitor Vicente, Março de 2012

Nós, os expatriados, os exilados por vontade e por conta própria; nós que, estejamos onde estejamos, nunca estaremos em território habitável para os homens e que erraremos entre as estrelas e a eternidade; nós, melhor do que nada e ninguém, por vivermos num país que não o nosso, sabemos que estamos aqui agora e amanhã podemos ir embora, que assim é a passagem pelo mundo e que a palavra vida mais não é do que as quatro letras miudinhas de um bilhete só de ida.
Nós temos vontades de aves raras. Queremos voltar a ver com olhos de viajante as pátrias onde, anos antes, erguemos tendas e - tal era o espírito de aventura - nos julgámos a salvo de ventos e tempestades. Com o tempo, que é como quem diz com a distância temporal e também física, percebemos que essas pátrias estão lá, que continuam lá, que ainda podem ser o templo de todos os sonhos para os que ainda se podem permitir a ser inocentes e verdes.  
Às vezes, lá no alto, em pleno voo ou entre um poiso e outro, cruzam-se aves. Trocam dois dedos de conversa sobre caminhos e contra-caminhos, sobre o quanto e onde já sentiram tão sozinhos. Depois, regra geral, cada um segue o seu e faz do céu um pouco mais seu. É o caso mais comum.
Outras vezes, dá-se o acontecimento absolsuto. As aves apaixonam-se. Abrigam-se e aninham-se como quem prolonga a infância, perservam o que dela se vinha perdendo, de tão pouco perdoada e até proibida pelo polícia do crescimento.
Um dia, as aves - que já só juntas dão o golpe de asa - resolvem rumar às pátrias a que pediram guarida emprestada. Quanto à pátria de partida - que descobriram ser pátria de comum - deixam para mais tarde. 
Daqui a nada estarão em Malta. Dias depois, sempre a beirar como quem beija o Mediterrâneo, estarão em Barcelona.

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