segunda-feira, 2 de junho de 2014

Ares pela Ásia II

Songs of the Sea, Singapura, Vitor Vicente, Abril de 2014

Desde Platão que sabemos que as cidades não foram propriamente feitas para os poetas. Quem diz as cidades, diz as sociedades, os palcos, os fóruns da praça pública.
Ainda assim, tentemos supor que existem cidades poeto-friendly (o estrangeirismo, que eu normalmente evito e execro, tem um motivo). Assumindo isso, Singapura seria à medida dos poetas futuristas. Espécie que, enfim, já não existe. O mais próximo de futurismo artístico que nos é dado a assistir são os palermas que publicam fotos no Facebook com I-Phones e as fazem acompanhar de duas linhas digitadas às três polegadas.
Em dois dias que estive em Singapura, não fui capaz de escrever nada em direto. Quando muito, no aeroporto - que é o caso desta crónica que agora escrevo. Só não vou dizer que, além da Poesia, também a Literatura de Viagem foi pelas águas da marina de Singapura abaixo - pois, para mal da minha prosa ambulante, encontro-me condenado a intrometer versos subreptícios entre esses relatos pouco verídicos que faço das cidades que visito.
Dito isto, Singapura, essa bomba urbana, parece pôr em prática a palavra de Platão e cortar as mãos aos pobres dos poetas. As mãos, mas nada mais do que as mãos. Os olhos mantém-se invioláveis. Para que, por uma vez na vida, consigam esquecer-se que são escritores e lembrarem-se que são parte da amável multiplicidade de Singapura. 
Logrado isto, serão repostas as mãos aos poetas. De pé, na mesma plateia que a plebe e que eu, aplaudirão a cidade, o país, a polis perfeita para o poeta futurista.    

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