domingo, 1 de junho de 2014

Deixar Dublin II

Antes de avançar com o destino pós-Dublin, impõe-se-me contar como aqui cheguei. E, deste modo, desvendar a dívida que tenho a Dublin.
Corria o ano de 2006. Em que, durante a maior parte do tempo, estive desempregado ou com contratos precários. A viver mal e - perdoem-me a palavra - portuguesmente. Devastado com a ideia de, pela primeira vez, ter tido um programa para me mudar para o outro lado do Tejo e de tudo ter ido por água abaixo, pensei em partir da Pátria. (Agora que penso, tem sido entre destroços de programas-mor que se têm movimentado as maiores mudanças da minha vida).
Voltando ao ano de 2006. Que, só pelo fato de não ter Facebook, parece ter sido há muito tempo, algures num Paleolítico. Onde só haviam redes sociais que, hoje, nos parecem parolas. Onde tipos tímidos como eu chateavam garotas. (Isto, lembro agora, neste acesso nostálgico, muitos anos depois do MSN Messenger- um chat que foi a cura para a vida sexual de merda de muita gente). Numa dessas redes sociais, conversei com uma portuguesa que morava em Dublin (entretanto, como parece ser moda, mudou-se para Londres,) e que, ao ligar a webcam nalguns dos cybers da cidade, me mostrou os olhos para o mundo e me punha, mudo, a murmurar para comigo "É possível ser-se português e viver noutro país."
Estive quase, quase a mudar-me para Dublin. Pela tentação, pela oportunidade de ter um trabalho. Até cheguei a anunciá-lo. Um dia, no tal chat para pessoal com escassa vida sexual, o MSN, encontrei um amigo que morava em Barcelona e disse-lhe que me ia mudar para Dublin. O meu amigo ficou contente. Mas acrescentou que ficaria ainda mais contente se eu parasse na Catalunya - como se a Catalunya ficasse pelo caminho.
O fato de caminho para a Catalunya se fazer de comboio deu uma volta de 180 graus à minha cabeça e desviou-me de Dublin para me atirar a  Barcelona. Já de bilhete de comboio comprado, bolsos cheios (mais de sonhos do que de dinheiro), conheci uma Eslovena que se ia mudar para Paris e com quem fiquei de tentar uma relação que, à distância de Barcelona e não de Dublin, parecia viável.
Não deu em nada. Assim como ficar em Dublin, à última hora, por uma gaja. 

0 Comentários:

Enviar um comentário

 

Seguidores