sábado, 6 de abril de 2013

Diáspora de Dublin XXIII

Portobello Harbour - Dublin, Vitor Vicente, Maio de 2012

Parece que, por fim, a Primavera chegou. A Portugal, ao velho Continente, e aqui às Ilhas - no pouco que é permitido de Primavera e de espécie de Estio por estas cinzas bandas.
Durante muito tempo, detestei a Primavera. Sobretudo, quando andava na escola, por toda a adolescência fora. É aquele período em que todo o parvo se esfola para obter uma boa nota. E com essa boa nota convencer o stôr a não dar-lhe uma nega que o pudesse comprometer, vulgo chumbar. (Hoje em dia, volvidos todos estes anos, chumbar passou a ser daqueles verbos que me lembram velhos ventos, que, seja em relação à escola, seja em relação a uma ida ao dentista, por  ter caído tão em desuso nos meus dentes, acabei por associar a algo datado e  atribuír requintes de uma qualquer relíquia ridícula. Mas essa, enfim, é outra história). 
Desde que estou em Dublin, e já lá vão quase três anos, que a Primavera passou a ser minha estação preferida. É quando chove menos por cá e os dias são longos, intermináveis que nem o Infinito. Dias lôngevos, como idosos teimosos que, de bengala em punho, sobrevivem a tempestades e enfermidades. Dias luminosos, dias compridos. Dias descomprimidos. Quentes é que nem tanto. São até bastantes os dias que se vestem de um azul que não consigo catalogar de azul escuro ou azul claro. São antes de um azul da côr do frio. 
Como não quero deixar esquecidas as outras estações, passo a um pequeno apontamento que não se prolongorará mais que um parágrafo. O Verão é húmido, tão húmido que nos pode humilhar com uma copiosa chuva a qualquer altura do dia. Mas depressa o dia se recompôe com sol de pouco dura. O Verão Irlandês são as quatro estações do ano a acontecerem em menos de vinte e quatro horas. Já o Inverno é de tez escura, tipo um túnel onde nem a neve Europeia nos acende o nosso lado lúdico mais súbito, nem nos deita a todos debaixo do mesmo impúdico manto branco. O Outono, outrora o meu período preferido do ano,  outrora  a época dos crepúsculos elegantes, degenerou num velho agoirento que, em pleno Agosto, nos anuncia que nos estamos a encaminhar para a escuridão extrema - e que, por nunca termos deixado de  estar às escuras, nem demos por isso. 
No fundo, a nossa preferência é volátil e pode variar consoante assentemos a nossa casa no mundo dos outros. Contudo, os nossos alicerces ambulantes sobrepôem-se a todos os caprichos e actualizações espontâneas do atlas. Sobrepôe-se, sim, só que não parece. Sobrepôe-se, sim, só que nem sempre. Subsistem as vezes que simplesmente sucumbe. 

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