domingo, 17 de novembro de 2013

Balcãs & Benelux II


Mostar vista da ponte Stari Most, Vitor Vicente, Outubro de 2013

Mostar não é banhada pelo mar, mas é como se fosse. Mostar está dividida por um rio, como quase todas as cidades europeias, mas é como se na Europa não estivesse. A ponte pedonal, que liga o bairro Muçulmano ao bairro Católico, cuja única competição é ver quem constrói a cúpula mais alta, essa ponte transforma toda Mostar num esbelto postal.
De resto, a realidade de Mostar é uma realidade rural. Ladeada por montanhas, assente num vale, repleta de ruínas recentes. À imagem de toda a restante Bósnia, onde o único mar que chegou foi o mar da História.
O império Otomano, uma vez deposto o Império Romano, foi o grande império de outrora. O império Otomano ainda não foi embora. Está ainda nos mercados e nos modos. Está até nas cabeças sem capacete que dirigem as motorizadas roubadas.
Mas há mais mar. Há o mar de sangue que banha ambas as margens da cidade. As feridas são um fato mais que visivel, as feridas cicatrizam a cidade por completo, em cada edificio esburacado.  
Mostar é então uma cidade banhada por dois mares que, no fundo, são um e o mesmo mar: o mar da História. Por maior que tenha sido o império Otomano, a carnificina de que fomos cúmplices é nossa contemporânea, demasiado contemporânea para que possa ser lavada pelo que ficou dos tempos imperiais de outrora.
Certamente que o sangue dos inocentes será para sempre. Quanto à ponte pedonal, é a mais bela por onde passei. Por isso, à semelhança do pôr-do-sol de Zadar,  também esta ponte é para sempre. De mais não precisei para sair desta cidade. Com um certo sorriso. Contente.  

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