quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Com a de-vida distância II


Brasov - Cárpatos, Vitor Vicente, Janeiro de 2009

Enquanto vivi na Catalunya, viajei duas vezes com os meus pais. Uma a Amsterdão, a outra entre Paris e Bruxelas. Alguns colegas espanhóis tentaram convencer-nos a não querer conhecer a capital do continente: "Por que no te vas a Brujas?". Repeti: "Brujas?". Eles insistiram: "Si, tio. Brujas. En Belgica.". Pareceu-me ter percebido e dei uma palpite: "Ah Bruges!". E assentiram: "Eso es.". Só então entendi os espanhóis.
Entretanto, já entendera que o Halloween quase não existia em Espanha. Espantei-me. Em Portugal havia um crescendo de celebrações. Pensava eu que assim era em toda a Europa. Em Dublin toda a cidade o celebra. Durante dias. Como um Carnaval, com direito a traje a rigor e tudo. E em tudo o que é pub, nightclub e até restaurantes.. Em Barcelona "la noche de las brujas" passa em claro, excepto às discotecas dark e alguns pontos nocturnos pontuais.
O Halloween é melhor medidor de anglofilia. Quanto mais anexados à América, mais efusivos são os festins das abóbaras e afins. Além da América, todos os países anglófilos o comemoram com pompa e circunstância. Depois estão os países que, como Portugal, estão convencidos que tudo o que fale inglês nativo é nobre. E por aí fora, até à Espanha, até aos que vivem de costas para a civilização, como Cuba ou a Coreia do Norte.
O Halloween está para os Estados Unidos como o Carnaval para o Brasil. Já imaginaram como seria o impacto de um exército de vampirosos em Habana ou um desfile de mulatas no reino igualitário de Kim?
Eu não. A minha viagem foi outra. Deu-se no único club gótico de Dublin. Sempre que aterro num gueto deste cariz, não importa em que cidade, sinto que estou em Lisboa, que recuei aos anos idos e alcoólicos da adolescência. Sou então capaz de gestos e atitudes que supunha enterrados dentro de mim. Surge-me um monstro no meu próprio corpo. Eis o mais autêntico assombro de Halloween, eis-me a ter medo de mim. Eis-me a viver Portugal com a de-vida distância.

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