sábado, 8 de março de 2014

Diáspora de Dublin XXXV

Estátua de Alfredo da Silva - Barreiro, Fevereiro de 2014, Vitor Vicente

É fato: retomei o gosto pelo negro, no que à vestimenta toca. Não se trata, todavia, da velha vestimenta, de que hoje faço chacota, quando a ostenta aqueles a quem já caducou a rebeldia de sair à rua conforme lhes dita a gana. No meu caso, o revivalismo pelo negro tem que ver com a constante revisão a que me sujeito. É, de resto, por isso que me olho ao espelho: para ver se ainda me revejo no meu reflexo.
O roupeiro - como, aliás, a própria casa - reflete o nosso estado de espírito. O roupeiro revela-me que eu voltei - e assim volto ao assunto - ao negro e que esse regresso tem que ver com o revisitar-me, com o redescobrir-me.
Eis o sentimento de voltar a envergar a velha casaca. Não que com isso queira dizer que tenho andado com a casaca virada do avesso. Foi tudo tão simples como ter questionado a casaca, experimentá-la ao contrário, para depois escolher a que melhor entendo combinar comigo. Exercício espiritual que muito boa e dogmática gente, sejam politicamente de direita ou de esquerda, jamais fez. Quem é que, alguma vez na vida, se atreveu a pôr em cheque as suas convições e/ou crenças e a ver o mundo na versão inversa do que habitualmente vê? Aposto que poucos, quase nenhuns de nós.
Posso parecer pretensioso, mas eu não quero ser pertença desse grupo. Por outro lado, também não assinalarei o luto pelo abate de consciências e pela decadência da cidadania, tanto na urbe, como no campo. O meu luto é outro. O meu negro também. Existem várias tonalidades de negro, assim como as há de todas as cores. Eu só reivindico duas coisas. Uma é aquela cor que seja só minha. A outra é que se extinga no mundo o pior dos racismos - que consiste, nada mais e nada menos, do que em segregar aquele que tenha uma cor que seja só a sua. 

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