quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Lições da Índia - Dinheiro

Encantadores de Serpentes - Jaipur, Vitor Vicente, Novembro de 2011

Se há um Deus único e adorado à escala universal, esse Deus dá pelo nome de Dinheiro. A diferença está no quanto somos devotos, até que ponto nos curvamos quando prestamos culto.
Havia que elencar toda uma mercenária estirpe, em suas várias faces e variadas feições. Tempo perdido para o presente propósito. Tempo - já lá diz o mandamento dos ditos devotos - tempo é dinheiro. Fiquemo-nos pelos indianos. Esses mesmos: os exóticos, os das túnicas. Suas túnicas dão pano para mangas - para planos debaixo das mangas.
Alguns indianos acham que o tempo dos outros é dinheiro. Eu explico com um exemplo: todos os táxis que apanhei na Índia, antes de me deixarem no destino acordado, fosse um hotel, um restaurante ou até o Taj Mahal, tentaram fazer-me parar num local onde pudesse fazer umas comprinhas que se reverteriam em comissões para os bem-intencionados dos motoristas. Como se eu não soubesse onde dormir e que comer; ao fim e ao cabo, os elementos mais básicos do viver humano. O cúmulo deu-se, certa tarde, quando tentei ver o Taj Mahal e tudo o que consegui visitar foi uma oficina onde se fazem cerâmicas com o mesmo mármore do dito monumento e ir a um teatro assistir a uma peça sobre a história do dito (digo, interdito?) monumento. 
Eu entendo que se queira tirar dinheiro aos turistas. É prática comum e corrente (um dia dir-se-á clássica) em todo o mundo. Mas não entendo que se engane deste modo. Senti-me uma máquina com que fazer dinheiro. Mais do que o meu dinheiro, senti que me estavam a tirar tempo. E o tempo é o mais precioso e privelegiado dos bens. Uma vez roubado, jamais é recuperado. Existe pior espécie de ladrões do que ladrões de tempo?
Por este e por outros motivos, devo dizer que esperava mais misticismo da Índia, que esperava uma atmosfera mais mágica, uma energia exótica, quase sagrada. Mas nada. Encontrei-me neste país com  pessoas que querem fazer dinheiro sem olhar a meio, sem tacto humano, à custa de qualquer caucasiano. Ainda falam dos americanos. Ainda falam dos judeus. 

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